Portugueses de Ouro
O agradável reencontro com a Susana e o Diogo Aguiar-Branco (respetivamente, viúva e filho do Pedro Aguiar-Branco, antiquário que fazia o favor de ser meu amigo desde a nossa juventude liceal), trouxe à minha biblioteca a última obra coordenada pelo saudoso Pedro: "Comprar o Mundo - Consumo e Comércio na Lisboa do Renascimento / Shopping for Global Goods - Consumption and Trade in Renaissance Lisbon" (Lisboa e Paris, 2020).
Do catálogo desse livro, ressalto uma moeda: "um muito raro exemplar, em muito bom estado, de um português, uma moeda de ouro" de ca. 1525-1555, e 35,4 g (texto de Hugo Miguel Crespo, op. cit., pg.34).
Uma moeda que, após uma perfunctória pesquisa na internet, sei agora que teve grande curso legal na Europa e Ásia de então, ao ponto de os holandeses a terem copiado e diversos pachás a terem guardado nos seus tesouros. Era a moeda das grandes compras, quase 100% ouro puro, provavelmente oriundo do Brasil. A cunhagem e importância desta moeda global atravessou os mares e os séculos, desde o reinado de D.Manuel até ao de D.José, ou seja desde o século XVI ao XVIII. 200 anos de ouro!
Mas volto ao texto de Hugo Miguel Crespo sobre a moeda, em tema que ainda me impressionou mais, relativo à inscrição do reverso, que rodeia uma Cruz de Cristo, dizendo IN HOC SIGNO VINCES": "A frase em latim que pode ser vertida para com este sinal vencerás, é uma tradução livre da frase original em grego Nisto, vence, usada como mote pelos reis portugueses desde 1143".
Como é sabido, 1143 é por muitos assumido como a data da independência deste Portugal honrado - por corresponder ao ano do Tratado de Zamora, celebrado por D. Afonso Henriques. Fazer remontar o mote a esta data torna-nos, por conseguinte, Portugueses de Ouro. Herança impressionante.
E faz-nos falta, se pensarmos que temos vindo sucessivamente a mingar em território e importância geopolítica desde o final do reinado de D. José.
Sem saudosismos, temos de voltar ao IN HOC SIGNO VINCES.
Luis Miguel Novais