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Porto de Braga

Por ocasião da minha 60 volta ao Sol, tive o privilégio de reunir família e amigos mais próximos, em muito reduzido número por motivos logísticos: fomos visitar de madrugada, por montes e vales em jipes de Safari, sob a Lua Cheia denominada Superlua Azul (que se espera venha a ser repetida daqui a mais de uma década), as espectaculares gravuras de Foz Côa, estas com mais de 24.000 voltas ao Sol, sob a mesma Lua. Todo um programa, maravilhosa Natureza com Arte Portuguesa! No meio de outras gratas pérolas de prenda (sem desprimor, nem ingrata falta de carinho pelas demais), destaco aqui uma oferta dos três volumes de Portuenses Ilustres de Sampaio Bruno, obra que não possuía e que tenho vindo a ler com prazer. Em si mesmo, o pseudónimo Bruno de José Pereira de Sampaio, derivado de Giordano Bruno, já é todo um programa... Nem eu, nem os familiares e amigos que nos reunimos no Côa somos ocultistas, ou maçons (como foi Sampaio Bruno), mas a cosmologia da coincidência é interessante! Tanto

Portugueses de Ouro

O agradável reencontro com a Susana e o Diogo Aguiar-Branco (respetivamente, viúva e filho do Pedro Aguiar-Branco, antiquário que fazia o favor de ser meu amigo desde a nossa juventude liceal), trouxe à minha biblioteca a última obra coordenada pelo saudoso Pedro: " Comprar o Mundo - Consumo e Comércio na Lisboa do Renascimento / Shopping for Global Goods - Consumption and Trade in Renaissance Lisbon " (Lisboa e Paris, 2020). Do catálogo desse livro, ressalto uma moeda: "um muito raro exemplar, em muito bom estado, de um português, uma moeda de ouro" de ca. 1525-1555, e 35,4 g (texto de Hugo Miguel Crespo, op. cit., pg.34).  Uma moeda que, após uma perfunctória pesquisa na internet, sei agora que teve grande curso legal na Europa e Ásia de então, ao ponto de os holandeses a terem copiado e diversos pachás a terem guardado nos seus tesouros. Era a moeda das grandes compras, quase 100% ouro puro, provavelmente oriundo do Brasil. A cunhagem e importância desta moeda gl

O Mundo Segundo Noronha

As autobiografias costumam ser encaradas como literatura menor, fruto da nossa cultura de (tantas vezes) apenas aparente humildade, ou melhor, sprezzatura - palavra que, como recorda a propósito um dos meus personagens de  A Janela do Cardeal , nunca chegou a ser traduzida para língua portuguesa. Na verdade, algumas são-no, menores. Outras autobiografias são testemunhos de vida in perpetuam rei memoriam. Uma destas últimas, é a recém-publicada de Durval de Noronha Goyos Júnior, escritor e advogado internacional eminente, que faz o favor de ser meu amigo. Sob o título desta crónica: O Mundo Segundo Noronha ( São Paulo, Brasil, 2023). Cabem neste Portugal Honrado, mais do que propriamente uma recensão, observações de apreço pela obra (pelo gosto que me deu lê-la) e preocupação pela parte que aqui cabe: Portugal em matéria de honra (ou, como já dizia um dos personagens de Camilo Castelo Branco em O Retrato de Ricardina : "Mas a honra, a pátria, a família?... Que coisas são estas, p

Desportuguesar

Felizmente, saiu de moda. Mas desportuguesar já se usou muito, em Portugal. Desportuguesar está por retirar a naturalidade portuguesa a alguém que em Portugal nasceu. Uma impossibilidade lógica. Uma realidade política. Um absurdo.  Ou, como diria o meu protagonista em A Janela do Cardeal (aproveitando eu a expressão idiomática em língua inglesa, queixando-se ele de ter sido vítima de tal): um sino não se pode destocar. No tempo do rei D. Manuel de Portugal houve muito desportuguesamento. O mais famoso é produto da expulsão de Portugueses de religião judaica. Mas, a meu ver, o mais embaraçoso foi o de Fernão de Magalhães. Fernão de Magalhães nasceu no norte de Portugal continental, em Sabrosa, no Alto Douro. Era cidadão do Porto. Esteve na Índia. Foi maltratado na Corte de Lisboa. Emigrou para Sevilha. Daí partiu, desportuguesado, para dar a primeira volta ao mundo.  A parte do Fernão Magalhães ter sido desportuguesado é tão embaraçosa que, obviamente, vem normalmente omitida. Ao fim e

Monte de Currais

A primeira morada de casados de meu pais (onde terei sido concebido) foi na última casa sobrevivente da pequena, mas de nome significativo, Rua do Porto Feliz, no Porto de Portugal. Com vista para os ainda hoje extensos campos do Monte de Currais. Por ser adjacente à minha zona das Antas (onde cresci e escolhi viver), passeio por lá frequentemente a pé.  Um destes dias ocorreu-me participar à Câmara Municipal do Porto um lugar de uma possível "Mamoa". Devo reportar que muito diligentemente me responderam que investigaram e se tratará de um mero aterro, mas que vão ficar atentos (até porque, segundo o Plano Diretor Municipal, a zona é de condicionantes por vestígios arqueológicos). Sei agora (após eu próprio ter também investigado), que não cabem dúvidas literárias sobre a existência de "Mamoas" na zona. Vêm assinaladas duas "Mamoas" na "Carta de confirmação e ampliação do couto dado por Dona Teresa à Sé do Porto", feita pelo rei Dom Afonso Henriq

Por-tu-ga-l

Na Torre do Tombo de Portugal, em Lisboa, encontra-se o mais antigo documento até hoje conhecido em que aparece a palavra Portugal: trata-se da Carta de Doação de São Bartolomeu de Campelo, Baião, feita (segundo o próprio texto) pelo "infante" Afonso Henriques (futuro primeiro Rei de Portugal), filho do "conde" Henrique e da "rainha" Teresa, e "neto do imperador de Hispania" Afonso. Assim se apresenta o próprio, neste documento.  É um documento do ano de Cristo 1129 (está reproduzido aqui ). No texto vem referido "portugalensi", mas no sinal (símbolo) de assinatura vem, por entre uma cruz, a palavra Portugal dividida em quatro partes: Por-tu-ga-l. Visto nos dias de hoje, quase parece um cântico guerreiro ou de claque desportiva: Por-tu-ga-l. E os nossos historiadores estão hoje de acordo em distinguir três entidades medievais diferentes sucessivas: o Condado Portucalense (de Vímara Peres), o Condado Portugalense (de Dom Henrique e Dona

Honra de Novais

Escapou ao olhar arguto do grande historiador Alexandre Herculano um conceito tradicional de Honra em Portugal mais amplo do que aquele que nos deixou definido na sua monumental HISTORIA DE PORTUGAL,  de 1846 (ao qual aludo aqui: Honra em Portugal ).  Com efeito, num documento publicado muitos anos antes, em 1815, por José Pedro Ribeiro e seus discípulos da Aula de Diplomática da Universidade de Coimbra, no livro MEMORIAS PARA A HISTORIA DAS INQUIRIÇÕES DOS PRIMEIROS REINADOS DE PORTUGAL, lê-se a pgs. 44 (na grafia original), referida à freguesia de Santa Eulália de Gondar, num extremo Norte de Portugal, no Entre-Coura-e-Minho (entre Valença do Minho, Paredes de Coura e Vila Nova de Cerveira): "jurati dixerunt, que ouvirom dizer, que a mea desta davandicta Ecclesia era regaenga, e dous Casaes em Paradela, e quando foi o enserco Dalcazar cativou y Dom Pelagio Novaes, et quando sahio de cativo deu-la EIRey Dom Sancho, cum estes davandictos cassaes, e onrouli a villa de Gondiar, e de